Artes Visuales
Jardim do Paço do Cardido
Há jardins invadidos de luar
Que vibram no silêncio como liras.
Segura o teu amor entre os teus dedos
Neste jardim de Abril em que respiras.
A vida não virá – as tuas mãos
Não podem colher noutras a doçura
Das flores baloiçando ao vento leve.
Fosse o teu corpo feito de luar,
Fosses tu o jardim cheio de lagos,
As árvores em flor, a profusão
Da tua sombra negra nos caminhos
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética I
Paço do Cardido
Viana do Castelo, Ponte de Lima – Séc. XVIII-XIX
A meia encosta, sobranceira ao vale do Rio Minho, foi construído no Séc. XVIII o Paço do Cardido a doze quilómetros de Ponte de Lima.
Através de um largo portão de madeira acede-se ao interior do conjunto edificado que apresenta uma planimetria em “U” em torno de um pátio interior que serve os vários corpos do edifício.
Nestas encostas inclinadas, para se criarem espaços planos onde fosse possível desenhar geometrias perfeitas com vegetação, caminhos e fontes, o terreno foi esculpido em terraços sustentados por muros de suporte.
O jardim é constituído por dois terraços ligados por uma escada, nos quais se dispõem canteiros com desenhos de buxo e pequenas fontes talhadas em granito. O último terraço termina numa latada que serve de miradouro sobre os terrenos agrícolas que se desenvolvem em direcção ao vale a perder de vista. No muro que suporta a plataforma do jardim foram abertas floreiras e bancos, de onde se obtêm amplas vistas sobre a área de produção.
No jardim existem espécies exóticas, destaca-se um enorme tulipeiro (Linodendron tulipifera). A introdução de novas espécies, nomeadamente de árvores, viria a ser mais notória na mata, que se estende a partir da zona posterior do conjunto até ao topo da encosta. Esta mata ou bosquete apresenta um elevado número de espécies exóticas. De entre os monumentais carvalhos que constituem o maior número de exemplares, surgem espécies como o Eucaliptus ficifolia, que todos os anos deslumbram com a sua floração vermelha. Estes exemplares servem de enquadramento ao elaborado cenário de jardim romântico onde se distribuem mirantes, grutas, pontes e alegretes. É uma composição típica do Sec. XIX e constitui o elemento de destaque de toda a quinta.
Ao entrar neste espaço é possível absorver a atmosfera de bruma criada pelo denso tecto vegetal, grutas e mirantes. É um lugar paradisíaco que o tempo tornou enigmático. O ambiente de mistério e algum abandono é definido por Ilídio Araújo: “
Quando hoje penetramos nesses jardins temos (…) a sensação de nos encontrarmos num palco que espera os seus actores. Por isso a maior parte deles, passada a moda das festas galantes nos jardins, desaparecidas as damas de colos floridos (…) tomaram a forma algo indecisa de quem ainda não descobriu a sua futura função; na maior parte dos casos persistem como relíquia histórica de um passado longínquo”.
Jardins com História, Edições INAPA 2002
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